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quarta-feira, 2 de março de 2011

FUNDAMENTO DA OBRA MISSIONÁRIA: A PRIORIDADE DO ESPÍRITO SANTO NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DA PRINCIPAL MISSÃO DA IGREJA DE CRISTO II

Parte II
O Espírito Santo na conversão do homem
          Logo no primeiro discurso evangelístico, durante a festa de pentecoste, fato registrado no capítulo 3 de Atos dos Apóstolos, vemos Pedro anunciando a messianidade e ressurreição de Jesus. Essa pregação levou à conversão de três mil pessoas de uma só vez. Seria porventura esta conversão fruto de mera argumentação lógica de Pedro, ou não temos que encarar o fato do poder do Espírito Santo na mente humana? (Ez 36).
          Fruto também deste pensamento modernista de argumentação lógica, parece que a igreja passou a entender que é o poder de convencimento que leva o homem a crer no Evangelho. Contudo, quando observamos a Palavra de Deus, ela nos afirma que, para o homem caído, o evangelho é loucura (1 Co 1.18). Além disso, não se pode esquecer que sim, é este Espírito, e não o pregador, quem convence o homem da realidade do pecado, das conseqüências deste pecado para o homem e da justiça de Deus em Jesus:
Jo 16.8-11: Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Do pecado, porque os homens não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e vocês não me verão mais; e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está condenado.
Claro que não se pode tirar o mérito do uso racional e contextualização da mensagem para que seja inteligível, pois mesmo na antiguidade se pode ver que isto era usado. O próprio Jesus utiliza as parábolas para simplificar o entendimento de sua mensagem. O que não se pode é esquecer que o papel decisivo de convencer é do Espírito Santo, não nosso. Mesmo diante de argumentos sólidos e irrefutáveis, muitos continuam sem aceitá-los. Por quê? Porque no fim, quem convence não são os argumentos! O apóstolo Paulo declarou:
1 Co 2.4,5: Minha mensagem e minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus.

O ESPÍRITO SANTO E OS DONS ESPIRITUAIS E MINISTERIAIS
          Outra ação decisiva do Espírito Santo é na concessão dos dons espirituais e ministeriais para a igreja[1]. Sem eles a igreja teria sérias dificuldades no desempenho de suas responsabilidades no Reino de Deus, inclusive no evangelismo.
          Podemos destacar duas das contribuições dos dons na obra de missões:
1)    Esses dons auxiliam na organização e manutenção do corpo de Cristo, seja no auxílio entre os membros, seja na divisão de atribuições. A saúde do corpo de Crist é essencial, pois apenas uma igreja equilibrada com cristãos equilibrados é capaz de cumprir a missão em sua integralidade. Primeiro, sendo exemplo para o mundo, em segundo lugar, preparando adequadamente seus membros para testemunharem do Senhor. Se considerarmos, por exemplo, a ação dos mestres, veremos quão fundamental é esse dom, pois, certamente, o ensino correto das escrituras é essencial para a proclamação do evangelho genuíno. Para isso também dependemos do Espírito Santo. Vejamos o que nos diz o Apóstolo Paulo:

1 Co 12.6-11: Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum. Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra de conhecimento; a outro, fé, pelo mesmo Espírito; a outro, dons de curar, pelo único Espírito; a outro, poder para operar milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a outro, interpretação de línguas. Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer.
1 Co 12.28: Assim, na igreja, Deus estabeleceu primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois os que realizam milagres, os que têm dons de curar, os que têm dom de prestar ajuda, os que têm dons de administração e os que falam diversas línguas.
Rm 12.6-8: Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada. Se alguém tem o dom de profetizar, use-o na proporção da sua fé. Se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine; se é dar ânimo, que assim faça; se é contribuir, que contribua generosamente; se é exercer liderança, que a exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria.
Ef 4.11,12: E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado.

2)    O poder, os sinais, chamam a atenção e demonstram que a mensagem é da parte de Deus. Quanto aos dons espirituais, podemos, por exemplo, destacar os dons de cura e de operação de milagres. Estes dons revelam o poder de Deus entre os homens. Nicodemos declarou que reconheciam Jesus como sendo de Deus por causa dos sinais (Jo 3.1,2), Jesus respondeu a pergunta de João Batista se Ele, Jesus, era o Cristo, mostrando os sinais (Lc 7.18-23), o próprio Jesus disse aos discípulos que sinais seguiriam os que crescem (Mc 16.17,18), Estevão realizava sinais ao anunciar o evangelho (At 6.8). Contudo, baseando-nos em nosso racionalismo humanista, esquecemos destes aspectos e nos focamos apenas no poder do conhecimento, da razão e do argumento para anunciar a mensagem do evangelho, quando o próprio Jesus mostrou sua dependência do Pai, enquanto esteve encarnado entre nós (Mt 11.27; 20.23).

Rm 1.16, 18: Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego; Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus.
1 Co 2.4,5: Minha mensagem e minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus.

O ESPÍRITO SANTO E O FRUTO DO ESPÍRITO (O CARÁTER DIVINO PRODUZIDO NO HOMEM)
Ef 4.28: ainda fala: O que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo algo de útil com as mãos, para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade.
 Fomos restaurados em uma nova vida não apenas para nos apartar do pecado, ou seja, para restaurar nossa relação com Deus, mas também para restaurar nossa relação com o próximo. Deus nos leva a amar o próximo de forma que o bem estar deste é de nosso interesse e preocupação. Isso é essencial no anuncio do evangelho completo, que visa cuidar do homem completo. Para LIDÓRIO JÚNIOR (2008, p. 25) a igreja pregava Jesus porque vivia Jesus. Para CARLSON & PEARCY (2000, p. 12), se os cristãos querem levar a mensagem do evangelho para o mundo, primeiro devem entendê-la e vivê-la.
Em alto grau está não apenas a relação vertical do crente com Deus, mas também uma relação horizontal do crente com seus irmãos “pelo amor cristão expresso numa vida moral” (CAIRNS, p. 57)
          Não se pode acreditar que as pessoas darão ouvidos a uma mensagem se os que anunciam têm prática não condizentes com esta. Amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22-24). Essas são características existentes na vida daqueles que têm o Espírito de Deus em si. São essas características que nos levam amar incondicionalmente, nos possibilitam ser um corpo. Isso certamente foi um forte instrumento da igreja da era apostólica, pois aliava o poder da palavra pregada, com os sinais e maravilhas demonstrados, e adicionado a tudo isso a comunhão, demonstração viva do poder restaurador do evangelho de Jesus Cristo. O evangelho vivido transparece a presença de Deus na Igreja. É o amor de Deus demonstrado, e não apenas verbalizado.
At 2.42-47: Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. Todos os dias continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo (grifo nosso). E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos.
Sl 67.1,2: Que Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe, e faça resplandecer o seu rosto sobre nós, para que sejam conhecidos na terra os teus caminhos, a tua salvação entre todas as nações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Doutrina bíblica, oração e comunhão, sendo guiados pelo Espírito, eis o que realmente precisamos para anunciar a mensagem do evangelho eficaz. Quando entendermos e levarmos estas coisas a sério, quando junto nos dispormos a darmos as mãos e dedicar nosso interesse e forças a esses fundamentos, então conseguiremos inverter a lógica herdada da era moderna e os planejamentos estratégicos serão utilizados, sim, mas de forma secundária, e, então, o Espírito Santo voltará a se tornar o centro a reinar e determinar a direção a ser seguida, os métodos a serem empregados e as metas a serem traçadas.
Essa é minha oração: Hb 3.7,8a: Assim, como diz o Espírito Santo: “Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração. 1 ts 5.19: não apaguem o Espírito.


[1] Utilizo a terminologia mais corrente quanto a categorização destes dons.

Referências Bibliográficas

Bíblia de Referência Thompson, 1992.
Bíblia Sagrada, Edição Contemporânea de Almeida, 1990.
Bíblia Sagrada, Edição Corrigida e Revisada, 2007.
Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional, 2000.
A missão da Igreja no mundo de Hoje. As principais palestras do Congresso Internacional de Evangelização Mundial realizado em Lausanne, Suíça. Trad. José Gabriel Said. 3ª ed.São Paulo: ABU, 1989, 248 p.
CARRICKER, Timóteo, A visão missionária na Bíblia; uma história de amor. 1ª ed. Viçosa: Ultimato, 2005. 134 p.
CARRICKER, Timóteo, Missões na Bíblia; princípios gerais. 1ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1992.  61p.
MORELAND, J. P. & CRAIG, William Lane, Filosofia e Cosmovisã Cristã. Trad. Emirson Justino e outros.  1ª Ed. São Paulo: Vida Nova, 2005.790p.
COLSON, Charles & PEARCY, Nancy. E agora como viveremos? Trad. Benjamin de Sousa e outros. 2ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, 647 p.
CAIRNS, Earle Edwin. O cristianismo através dos séculos; uma história da igreja cristã. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar Kroker. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2008, 671 p.
LIDÓRIO JÚNIOR, Gideon J. Avivamento e Missões; analisando nossa missiologia para descobrir um verdadeiro avivamento em nosso viver cristão. Práxis Evangélica, Londrina, v. 1, n. 14, p. 21-40, 2008.
MUZIO, Rubens Ramiro. O crescimento da Igreja evangélica e o genuíno despertamento espiritual. Práxis Evangélica, Londrina, v. 1, n. 14, p. 41-56, 2008
KUNH, Wagner. Educação Missiológica e Missão Global; Perspectivas Teológicas para a Igreja Adventista. Práxis Evangélica, Londrina, v. 1, n. 15, p.121-147. Jul. 2009.
DE OLIVEIRA, Wanderson Fernandes M. A necessidade de relacionamentos para o desenvolvimento da Igreja. Práxis Evangélica, Londrina, v. 1, n. 15, p.95-119. 2009.

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