O que você encontrará neste locus

Este é nosso para falar do que gostamos. A vida, os amigos, teologia, mundo eclesiástico, poesia, música. E eventualmente, do que não gostamos. Desvios da igreja, da doutrina, pósmodernidade...

terça-feira, 22 de março de 2011

Comentário panorâmico de Amós

Trago aqui um panorama do livro do profeta Amós, que possivelmente é o profeta cuja mensagem é a mais atual. Posteriormente tratrei correlação com o brasil do século XXI e a aplicação pessoal.

Amós: significa carga. Natural de Tecoa, cidade de Judá sem importância, recebeu seu chamado direto de Deus. Provavelmente residia em Israel. Amós era pastor de um tipo de ovelha que tinha pernas curtas e cara feia, cuja lã era abundante e valiosa. Os judeus afirmam que ele era um rico proprietário de ovelhas, mas o fato de também colher sicômoros parece negar isto, pois deixava as mãos manchadas, visto que era necessário retirar o suco. Certamente Amós conhecia muito bem a situação do povo, e, devido a seu ofício, ia a centros de comércio, e via o contraste da situação dos ricos comerciantes. Depois de Oséias e Amós vêm Isaías, mostrando que nada mudara. Em sua profecia, Amós, depois de falar da situação moral dos povos vizinhos e expor o juízo vindouro sobre eles, passou a mostrar que Israel era igual (ou pior), embora devesse ser diferente, pois tinha aliança com Deus e o ‘conhecia’. Foi o último profeta, o último aviso à Israel. Denunciou a corrupção espiritual ligada ao formalismo religioso e prosperidade material, que geravam a deterioração da justiça e da moral.
Período (II Rs 14; II Cr 26): profetizou por volta do ano 760 a.c., durante os reinados de Uzias (Judá) e Jeroboão II (Israel). Jeroboão, embora não tenha abolido o culto a Jeová, aderiu os cultos à deusa da fertilidade e de outros. Os Assírios derrotaram a Síria e depois voltaram-se para outras regiões, deixando espaço para Israel dominar a região. O reinado de Jeroboão, portanto, foi marcado por conquistas bélicas, restituindo o território original do reino de Salomão. Israel usou a capital Samaria como ponto de comércio. Isto criou uma classe extremamente rica de comerciantes. A estabilidade financeira e a segurança tornaram os líderes orgulhosos e negligentes. Há indício que Jeroboão II irregularmente agia como sacerdote, assim como fez Saul
Situação religiosa: Os santuários estavam sempre lotados de adoradores (5.21). Eles cumpriam os rituais muito bem. A prosperidade aqui era acompanhada das melhores ofertas possíveis (5.22). O texto fala de que, nos ajuntamentos solenes (cultos), ofereciam as ofertas pacíficas (símbolo de comunhão com deus e com o próximo), de manjares (gratidão pelas bênçãos), holocaustos com animais gordos. Eles eram assíduos, davam o melhor, cantavam perfeitamente (5.23). Eles achavam que isso afastaria o dia mal (6.3).
Situação econômica, política, social e judicial: O dinheiro trouxe a corrupção (1 Tm 6.9-10). Algumas das coisas denunciadas por Amós:
  • O pobre era obrigado a vender a terra à força, causava os sem-terra e os latifúndios. Isso contrariava a lei e a noção de que “minha é a terra, diz o Senhor”.
  • Eles usavam o vinho e as roupas “roubadas do povo” através da execução da hipoteca no templo, na adoração (!) (2.8). Ou seja, alguém que não pagasse a dívida ficaria até sem a roupa, o que mostra uma situação de extrema miséria e algo proibido pela lei. Roupas entregues como penhor deviam ser devolvidas no mesmo dia, para dormir.
  • As próprias pessoas eram tomadas para servirem de garantia de empréstimos (2.6).
  • Quem se levantava contra a injustiça perdia em popularidade (5.10; Is 29.21), por isso o justo ficava calado, pois além disso, poderia sofrer muito por causa de sua denúncia (5.13). Juízes e testemunhas eram corruptas e altamente subornáveis (5.12). A justiça era comparada à Alosna ou amargura.
  • As mulheres exigiam cada vez mais luxo (4.1 Basã). Tinha a casa de marfim, a casa de verão e casa de inverno (3.10,15). O luxo dos ricos era financiado pela injustiça e opressão dos pobres (4.1; 5.11).
  • Os comerciantes ainda no culto maquinavam os meios fraudulentos de ganhar dinheiro, diminuindo o efa e aumentando o siclo (8.5,6).
  • Eles adoravam a Deus no templo, mas depois corriam para os montes adorar outros deuses (8.14). Participavam do culto a Deus e também à deusa da fertilidade (“coabitam com a mesma mulher” 2.7).
  • Corrompiam os que serviam a Deus de verdade: convenciam o nazireu a beber e o profeta a não profetizar (2.12).
Enquanto os ricos ficavam cada vez ais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Estes perdiam o direito da verdade, da propriedade e da vida. Enquanto isso, os ricos estavam confortáveis (6.4-7).
Situação espiritual: O sentimento de corpo e auxílio mútuo, o cuidado com os pobres e desvalidos deveria ser a verdadeira marca. Contudo era a riqueza dos poderosos não indicava que Deus estava com eles. Pensavam que deus era fiel a eles e que sempre prosperariam por isso. Quando viam o livramento, a bênção, logo diziam que Deus estava com eles, mas o juízo estava preparado. O culto estava certo, a forma, a liturgia, mas o coração deles estava distante de Deus. “Não sabem fazer o que é reto” (3.10) demonstra que haviam perdido todo o senso. Diziam “o dia mal está longe” (6.3), mas Deus estava medindo a retidão de Israel através de Seu prumo (7.8). E seriam achados em falta.
Deus incitou seu povo a mudar de atitude. Embora tenha pregado inicialmente sozinho, não temeu, e Deus levantou outros, como Miquéias, Oséias e Isaías. Apesar de ser apenas um agricultor e pastor e não um profeta de profissão, formado em alguma escola, ele sabia quem o comissionara, e isto bastava. Ele anunciava a Palavra de Deus.
Juízos: Deus avisou que mandaria seca (prados e carmelo) seguida de gafanhotos. Todas as nações receberiam juízo, mas eles ouviram a Lei e seriam cobrados mais. Quanto maior o privilégio, maior será a cobrança/juízo. Tribulação quer dizer sofrer forte pressão, e era isso que Deus faria com eles (2.13). Deus os escolheu para um relacionamento, os fortaleceu, os libertou, deu uma terra, abençoou grandemente, os livrou dos inimigos, mas agora Ele não os livraria mais, a não ser um pequeno remanescente (3.12) (livraria da boca do leão apenas um pouco que restaria, como aconteceu na invasão Assíria). Desta vez, os sacrifícios não aplacariam a ira de Deus.
A destruição começaria pelo altar/tempo (3.14; 9.1). A riqueza conquistada é demonstrada nos elementos “casa” e “vinhas”, mas Deus adverte que eles não iriam usufruir, nem morar em suas mansões nem provar o vinho de suas vinhas (5.11). Assim como os castigos sobre o Egito foram para mostra quem Deus era e que aquele povo era Seu povo, faria o mesmo agora sobre Israel para lembrar-lhes disto. Eles provariam o exílio e escravidão (5.27)
Eles esperavam o Dia do Senhor, em que Deus vingaria de Israel, destruindo os gentios, mas eles mesmos seriam o alvo desta ira (5.18). “Prepara-te para te encontrares com teu Deus” (4.6-12) parece ser ou um chamado ao arrependimento ou o aviso que iria executar Seu juízo sobre Seu povo. Da mesma forma, o correr da justiça como um rio era um paralelo a que voltassem à justiça ou um anúncio de juízo inevitável em forma de enchente? Mesmo observando contexto ainda não há plena clareza.
Deus não destruiria Seu povo totalmente, mas os castigaria severamente, preservando um remanescente e garantindo a restauração da terra e do reino (9.11-15). No Novo Testamento está promessa é cumprida em Cristo e no Reino de Deus. A destruição seria tão grande que “haverá lamento em todas as vinhas” (5.17), ou seja, todas as famílias, e os pranteadores profissionais não dariam conta e teriam que chamar até os agricultores para os prantos (5.16).

Nenhum comentário:

Postar um comentário