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Este é nosso para falar do que gostamos. A vida, os amigos, teologia, mundo eclesiástico, poesia, música. E eventualmente, do que não gostamos. Desvios da igreja, da doutrina, pósmodernidade...

terça-feira, 22 de março de 2011

Pesquisa revela a tendência do cristianismo atual: Mediocridade

O instituto Barna Group publicou há poucos dias o resumo das principais pesquisas realizadas pela instituição nos Estados Unidos durante o ano de 2010. O resultado fornece um retrato de como o ambiente religioso nos Estados Unidos está se transformando em algo novo e também perigoso.

A matéria fornece seis tendências principais. Vejamos:


1. A Igreja Cristã está se tornando menos alfabetizada teologicamente

As pesquisas apontaram que o que costumavam ser verdades básicas e universalmente conhecidas sobre o cristianismo, são agora mistérios desconhecidos para uma grande e crescente parte de norte-americanos. Os estudos revelaram que enquanto a maioria das pessoas consideram a Páscoa como um feriado religioso, apenas uma minoria de adultos a associam com a ressurreição de Jesus Cristo. Outros exemplos, relata a matéria, incluem a constatação de que poucos adultos acreditam que sua fé é para ser o ponto focal de sua vida ou ser integrados em todos os aspectos da sua existência. Além disso, uma crescente maioria acredita que o Espírito Santo é um símbolo da presença de Deus ou do poder, mas não é uma entidade viva. A teologia livre para todos que está invadindo as igrejas protestantes em todo o país sugere que a próxima década será um momento de diversidade teológica incomparável e inconsistência.


2. Os cristãos estão se tornando mais isolados dos não-cristãos

Os cristãos estão cada vez mais espiritualmente isolados dos não-cristãos do que era há uma década. Exemplos dessa tendência incluem o fato de que menos de um terço dos cristãos tem convidado qualquer pessoa para se juntar a eles em um evento da igreja durante a época da Páscoa. Os adolescentes são menos inclinados a discutir o cristianismo com seus amigos do que acontecia no passado.

3. Um número crescente de pessoas estão menos interessadas em princípios espirituais e desejosos de aprender mais soluções pragmáticas para a vida.

Quando perguntado o que mais importa, os adolescentes norte-americanos disseram priorizar a educação, carreira, amizades e viagens. A fé é importante para eles, mas é preciso primeiro um conjunto de realizações de vida. Entre os adultos, as áreas de importância crescente são o conforto, estilo de vida, sucesso e realizações pessoais. Essas dimensões têm aumentado à custa do investimento em fé e família. O ritmo corrido da sociedade deixa as pessoas com pouco tempo para reflexão. O pensamento profundo que ocorre normalmente refere-se a interesses econômicos. As práticas espirituais como a contemplação, solidão, silêncio e simplicidade são raras. (É irônico que os mais de quatro em cada cinco adultos dizem viver uma vida simples.)

4. Entre os cristãos, o interesse em participar da ação da comunidade é cada vez maior

Os cristãos estão mais abertos e mais envolvidos em atividades de serviço comunitário do que no passado recente. No entanto, conforme alerta a matéria, apesar dessa tendência, as igrejas correm o risco desse engajamento diminuir, a menos que abracem uma base espiritual muito forte para tal serviço, e não por estímulo momentâneo.

5. A insistência pós-moderna de tolerância é de conquistar a Igreja Cristã

O analfabetismo bíblico e a falta de confiança espiritual fez com que os americanos evitassem escolhas baseadas na exigências bíblicas, com medo de serem rotulados de julgadores (ou preconceituosos). O resultado é uma Igreja que se tornou tolerante com uma vasta gama de comportamentos moralmente e espiritualmente duvidosos. A idéia de amor foi redefinido para significar a ausência de conflito e confronto, como se não existem absolutos morais que vale a pena lutar. Isso não pode ser surpreendente em uma Igreja na qual uma minoria acredita que existe uma moral absoluta ditada pelas escrituras.

6. A influência do cristianismo na cultura e na vida individual é praticamente invisível

O cristianismo é sem dúvida a cosmovisão que mais influenciou a cultura americana do que qualquer outra religião, filosofia ou ideologia. No entanto, isso não tem corrido nos últimos tempos.


Comentários de Milhomem:

Acredito que essas “tendências” não são novidades. Já que há muito tempo temos falado sobre esses temas aqui no blog, sobre a influência da pós-modernidade na igreja cristã. De qualquer forma, as pesquisas servem como alerta para os cristãos, tanto dos Estados Unidos como do Brasil.

“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” ( Rm 12:2 )

Comentários de Danilo Fernandes:

Concordando com Valmir, acrescento:

Esta é a herença maldita do falso avivamento proporcionado pelo neopentecostalismo e seus ventos de doutrina que nos atingem a todos, transformando a maior parte da igreja em seitas que se distanciam à passos largos do Evangelho.

Ademais, o vislubrar da progressão deste "evangelho da prosperidade" antropocêntrico é este mesmo: O alvo é o homem, um-a-um, nas suas mesquinhas necessidades pessoais e lasque-se o mundo. Dane-se o outro.

É a tentativa de botar um cabestro no Evangelho de Cristo e pô-lo a servir o egoísmo boçal.

Nem o homem se volta para Deus e nem para o seu semelhante. Somos o povo do umbigo. Que mer...! Nossa influencia no mundo é zero. Somos a mosca do cavalo!

Quem anda certo, rema contra um tsunami e não sabe, na igreja, quem é seu irmão, a quem estender a sua destra...

Uma catástrofe espiritual, mas também civílizatória de um grupo que se acha escolhido por Deus, o sal da terra, que não salga nada, não transforma nada, não acrescenta nada a si ou ao resto da humanidade. Somos os filhos das pequenas promessas, pequenas mesmo, medíocres, daninhas.

Fomos escolhidos e comprados para liderar uma revolução de AMOR, mas atualmente estamos ocupados ouvindo Valadão, comprando bíblias de 900,oo com unção financeira, dando tremiliques e imitando animais nos cultos, cultivando dentes de ouro, fazendo seminários de libertação e de maldições hereditárias  e participando alegremente de cruzadas em navios de cruzeiro.

Ninguém estuda a Palavra ou faz nada do que Jesus nos mandou em favor dos outros. (e de nós mesmos!) 

O inferno nos aguarda, mas pelo visto, antes seremos vergonha por aqui por algum tempo. 

Se o evangélico virar (ainda mais) motivo de piada e chacota é porque MERECE!

Em breve, o cenário americano será um pomar comparado ao futuro deserto nacional.

Deus tenha piedade!


Desculpe. Tava engasgado. Olhar esta pesquisa foi a gota d'agua!

Comentário panorâmico de Amós

Trago aqui um panorama do livro do profeta Amós, que possivelmente é o profeta cuja mensagem é a mais atual. Posteriormente tratrei correlação com o brasil do século XXI e a aplicação pessoal.

Amós: significa carga. Natural de Tecoa, cidade de Judá sem importância, recebeu seu chamado direto de Deus. Provavelmente residia em Israel. Amós era pastor de um tipo de ovelha que tinha pernas curtas e cara feia, cuja lã era abundante e valiosa. Os judeus afirmam que ele era um rico proprietário de ovelhas, mas o fato de também colher sicômoros parece negar isto, pois deixava as mãos manchadas, visto que era necessário retirar o suco. Certamente Amós conhecia muito bem a situação do povo, e, devido a seu ofício, ia a centros de comércio, e via o contraste da situação dos ricos comerciantes. Depois de Oséias e Amós vêm Isaías, mostrando que nada mudara. Em sua profecia, Amós, depois de falar da situação moral dos povos vizinhos e expor o juízo vindouro sobre eles, passou a mostrar que Israel era igual (ou pior), embora devesse ser diferente, pois tinha aliança com Deus e o ‘conhecia’. Foi o último profeta, o último aviso à Israel. Denunciou a corrupção espiritual ligada ao formalismo religioso e prosperidade material, que geravam a deterioração da justiça e da moral.
Período (II Rs 14; II Cr 26): profetizou por volta do ano 760 a.c., durante os reinados de Uzias (Judá) e Jeroboão II (Israel). Jeroboão, embora não tenha abolido o culto a Jeová, aderiu os cultos à deusa da fertilidade e de outros. Os Assírios derrotaram a Síria e depois voltaram-se para outras regiões, deixando espaço para Israel dominar a região. O reinado de Jeroboão, portanto, foi marcado por conquistas bélicas, restituindo o território original do reino de Salomão. Israel usou a capital Samaria como ponto de comércio. Isto criou uma classe extremamente rica de comerciantes. A estabilidade financeira e a segurança tornaram os líderes orgulhosos e negligentes. Há indício que Jeroboão II irregularmente agia como sacerdote, assim como fez Saul
Situação religiosa: Os santuários estavam sempre lotados de adoradores (5.21). Eles cumpriam os rituais muito bem. A prosperidade aqui era acompanhada das melhores ofertas possíveis (5.22). O texto fala de que, nos ajuntamentos solenes (cultos), ofereciam as ofertas pacíficas (símbolo de comunhão com deus e com o próximo), de manjares (gratidão pelas bênçãos), holocaustos com animais gordos. Eles eram assíduos, davam o melhor, cantavam perfeitamente (5.23). Eles achavam que isso afastaria o dia mal (6.3).
Situação econômica, política, social e judicial: O dinheiro trouxe a corrupção (1 Tm 6.9-10). Algumas das coisas denunciadas por Amós:
  • O pobre era obrigado a vender a terra à força, causava os sem-terra e os latifúndios. Isso contrariava a lei e a noção de que “minha é a terra, diz o Senhor”.
  • Eles usavam o vinho e as roupas “roubadas do povo” através da execução da hipoteca no templo, na adoração (!) (2.8). Ou seja, alguém que não pagasse a dívida ficaria até sem a roupa, o que mostra uma situação de extrema miséria e algo proibido pela lei. Roupas entregues como penhor deviam ser devolvidas no mesmo dia, para dormir.
  • As próprias pessoas eram tomadas para servirem de garantia de empréstimos (2.6).
  • Quem se levantava contra a injustiça perdia em popularidade (5.10; Is 29.21), por isso o justo ficava calado, pois além disso, poderia sofrer muito por causa de sua denúncia (5.13). Juízes e testemunhas eram corruptas e altamente subornáveis (5.12). A justiça era comparada à Alosna ou amargura.
  • As mulheres exigiam cada vez mais luxo (4.1 Basã). Tinha a casa de marfim, a casa de verão e casa de inverno (3.10,15). O luxo dos ricos era financiado pela injustiça e opressão dos pobres (4.1; 5.11).
  • Os comerciantes ainda no culto maquinavam os meios fraudulentos de ganhar dinheiro, diminuindo o efa e aumentando o siclo (8.5,6).
  • Eles adoravam a Deus no templo, mas depois corriam para os montes adorar outros deuses (8.14). Participavam do culto a Deus e também à deusa da fertilidade (“coabitam com a mesma mulher” 2.7).
  • Corrompiam os que serviam a Deus de verdade: convenciam o nazireu a beber e o profeta a não profetizar (2.12).
Enquanto os ricos ficavam cada vez ais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Estes perdiam o direito da verdade, da propriedade e da vida. Enquanto isso, os ricos estavam confortáveis (6.4-7).
Situação espiritual: O sentimento de corpo e auxílio mútuo, o cuidado com os pobres e desvalidos deveria ser a verdadeira marca. Contudo era a riqueza dos poderosos não indicava que Deus estava com eles. Pensavam que deus era fiel a eles e que sempre prosperariam por isso. Quando viam o livramento, a bênção, logo diziam que Deus estava com eles, mas o juízo estava preparado. O culto estava certo, a forma, a liturgia, mas o coração deles estava distante de Deus. “Não sabem fazer o que é reto” (3.10) demonstra que haviam perdido todo o senso. Diziam “o dia mal está longe” (6.3), mas Deus estava medindo a retidão de Israel através de Seu prumo (7.8). E seriam achados em falta.
Deus incitou seu povo a mudar de atitude. Embora tenha pregado inicialmente sozinho, não temeu, e Deus levantou outros, como Miquéias, Oséias e Isaías. Apesar de ser apenas um agricultor e pastor e não um profeta de profissão, formado em alguma escola, ele sabia quem o comissionara, e isto bastava. Ele anunciava a Palavra de Deus.
Juízos: Deus avisou que mandaria seca (prados e carmelo) seguida de gafanhotos. Todas as nações receberiam juízo, mas eles ouviram a Lei e seriam cobrados mais. Quanto maior o privilégio, maior será a cobrança/juízo. Tribulação quer dizer sofrer forte pressão, e era isso que Deus faria com eles (2.13). Deus os escolheu para um relacionamento, os fortaleceu, os libertou, deu uma terra, abençoou grandemente, os livrou dos inimigos, mas agora Ele não os livraria mais, a não ser um pequeno remanescente (3.12) (livraria da boca do leão apenas um pouco que restaria, como aconteceu na invasão Assíria). Desta vez, os sacrifícios não aplacariam a ira de Deus.
A destruição começaria pelo altar/tempo (3.14; 9.1). A riqueza conquistada é demonstrada nos elementos “casa” e “vinhas”, mas Deus adverte que eles não iriam usufruir, nem morar em suas mansões nem provar o vinho de suas vinhas (5.11). Assim como os castigos sobre o Egito foram para mostra quem Deus era e que aquele povo era Seu povo, faria o mesmo agora sobre Israel para lembrar-lhes disto. Eles provariam o exílio e escravidão (5.27)
Eles esperavam o Dia do Senhor, em que Deus vingaria de Israel, destruindo os gentios, mas eles mesmos seriam o alvo desta ira (5.18). “Prepara-te para te encontrares com teu Deus” (4.6-12) parece ser ou um chamado ao arrependimento ou o aviso que iria executar Seu juízo sobre Seu povo. Da mesma forma, o correr da justiça como um rio era um paralelo a que voltassem à justiça ou um anúncio de juízo inevitável em forma de enchente? Mesmo observando contexto ainda não há plena clareza.
Deus não destruiria Seu povo totalmente, mas os castigaria severamente, preservando um remanescente e garantindo a restauração da terra e do reino (9.11-15). No Novo Testamento está promessa é cumprida em Cristo e no Reino de Deus. A destruição seria tão grande que “haverá lamento em todas as vinhas” (5.17), ou seja, todas as famílias, e os pranteadores profissionais não dariam conta e teriam que chamar até os agricultores para os prantos (5.16).

Religião pode ser extinta em 9 países ricos

Esta matéria foi veiculada em muitos, senão, todos os sites de notícias. Claro que o objetivo é de realmente atacar a religião, especialmente cristã. As pessoas da (pós-)modernidade vêem a religião no máximo como pregadora de princípios morais. Contudo, com os inumeráveis casos de charlatanismo e outras práticas, até esta imagem tem sido deturpada.
O fato de as pessoas se declararem sem religião não quer dizer que não acreditam que Deus existe, mas que não querem viínculos com qualquer entidade religiosa.
Não podemos deixar de citar dois fatores bem genéricos, verdade, mas que resumem bem o que entendo como dois dos fatores: secularismo-pragmatismo, que embora não faça com as pessoas deixem de crer em Deus ou mesmo em Cristo, as leva a não pensar nem se preocupar com o eterno, as levando a se preocupar com as coisas do agora. Isto está bem marcado na "teologia" da prosperidade. Outro fator sem dúvida é o descrédito da igreja, mesmo perante os próprios cristãos.
Bem, não estou neste momento muito disposto a escrever aqui sobre isto, fica para uma próxima oportunidade. Leia e comente.
 
 
Terça-Feira, 22/03/2011, 09:53:18
 
Uma pesquisa baseada em dados do censo e projeções de nove países ricos constatou que a religião poderá ser extinta nessas nações.
Analisando censos colhidos desde o século 19, o estudo identificou uma tendência de aumento no número de pessoas que afirma não ter religião na Austrália, Áustria, Canadá, República Checa, Finlândia, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia e Suíça.
Através de um modelo de progressão matemática, o estudo, divulgada em um encontro da American Physical Society, na cidade americana de Dallas, indica que o número de pessoas com religião vai praticamente deixar de existir nestes países.
"Em muitas democracias seculares modernas, há uma crescente tendência de pessoas que se identificam como não tendo uma religião; na Holanda, o índice foi de 40%, e o mais elevado foi o registrado na República Checa, que chegou a 60%", afirmou Richard Wiener, da Research Corporation for Science Advancement, do departamento de física da Universidade do Arizona.
O estudo projetou que na Holanda, por exemplo, até 2050, 70% dos holandeses não estarão seguindo religião alguma.
MODELO
A pesquisa seguiu um modelo de dinâmica não-linear que tenta levar em conta fatores sociais que influenciam uma pessoa a fazer parte de um grupo não-religioso.
A equipe constatou que esses parâmetros eram semelhantes nos vários países pesquisados, resultando na indicação era de que a religião neles está a caminho da extinção. "É um resultado bastante sugestivo", disse Wiener. (AE)

sexta-feira, 18 de março de 2011

A Urgência da Pregação

A Urgência da Pregação

Dr. Albert Mohler é o presidente do Southern Baptist Theological Seminary, pertencente à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos; é pastor, professor, teólogo, autor e conferencista internacional, reconhecido pela revista Times como um dos principais líderes entre o povo evangélico norte-americano. É casado com Mary e tem dois filhos, Katie e Christopher.


A pregação atravessa tempos difíceis? Hoje está sendo travado um debate sobre o caráter e a centralidade da pregação na igreja. O que está em jogo é a integridade da adoração e da proclamação cristã.

Como isso chegou a acontecer? Levando em conta a centralidade da pregação na igreja do Novo Testamento, parece que a prioridade da pregação bíblica jamais deveria ser contestada. Afinal de contas, como observou John A. Broadus — um dos docentes fundadores do Seminário Batista do Sul dos Estados Unidos —, “a pregação é característica peculiar do cristianismo. Nenhuma outra religião tem realizado reuniões freqüentes e regulares de grupos pessoas para ouvirem instrução e exortações religiosas, uma parte integral do culto cristão”.

No entanto, muitas vozes influentes no evangelicalismo sugerem que a época do sermão expositivo já passou. Em seu lugar, alguns pregadores contemporâneos colocaram mensagens idealizadas intencionalmente para alcançar congregações seculares ou superficiais — mensagens que evitam a exposição do texto bíblico e, por implicação, um confronto potencialmente embaraçoso com a verdade bíblica.

Uma mudança sutil no início do século XX se tornou uma grande divisão no final do século. A mudança de pregação expositiva para abordagens mais temáticas e centradas no homem desenvolveu-se a ponto de se tornar um debate sobre o lugar das Escrituras na pregação e a própria natureza da pregação.

Duas afirmações famosas sobre a pregação ilustram essa divisão crescente. Refletindo, de maneira poética, a urgência e a centralidade da pregação, o pastor puritano Richard Baxter fez esta observação: “Prego como se jamais tivesse de pregar novamente, prego como um moribundo a pessoas moribundas”. Com expressão vívida e um senso de seriedade do evangelho, Baxter entendeu que a pregação é, literalmente, uma questão de vida ou morte. A eternidade pende na balança à medida que o pastor prega.

Contraste essa afirmação de Baxter com as palavras de Harry Emerson Fosdick, talvez o mais famoso (ou mal-afamado) pregador das primeiras décadas do século XX. Fosdick, que era pastor da Riverside Church, em Nova Iorque, provê um contraste instrutivo com o respeitado Baxter. Fosdick explicou: “Pregar é aconselhamento pessoal com base em grupos”.

Essas duas afirmações a respeito da pregação revelam os contorno do debate contemporâneo. Para Baxter, a promessa do céu e os horrores do inferno moldam a desgastante responsabilidade do pregador. Para Fosdick, o pregador é um conselheiro amável que oferece conselhos e encorajamento proveitosos.

O debate atual sobre a pregação é mais comumente explicado como uma argumento a respeito do foco e do formato do sermão. O pregador deve pregar um texto bíblico por meio de um sermão expositivo? Ou deve focalizar o sermão nas “necessidades sentidas” e nos interesses percebidos dos ouvintes?

É claro que muitos evangélicos contemporâneos favorecem a segunda opção. Instados pelos devotos da “pregação baseada nas necessidades”, muitos evangélicos abandonam o texto sem reconhecer que fazem isso. Esses pregadores podem ocasionalmente recorrer ao texto no decorrer do sermão, mas o texto não estabelece os assuntos nem a forma da mensagem.

Focalizar-se nas “necessidades percebidas” e permitir que elas estabeleçam os assuntos da pregação conduz inevitavelmente à perda da autoridade bíblica e do conteúdo bíblico no sermão. Contudo, esse modelo está se tornando, cada vez mais, a norma em muitos púlpitos evangélicos. Fosdick deve estar sorrindo no túmulo.

Os evangélicos antigos reconheceram a abordagem de Fosdick como uma rejeição da pregação bíblica. Um teólogo liberal confesso, Fosdick exibiu sua rejeição da inspiração, inerrância e infalibilidade das Escrituras — e rejeitou outras doutrinas centrais da fé cristã. Apaixonado pelas tendências da teoria psicológica, Fosdick se tornou um terapeuta de púlpito do protestantismo liberal. O alvo de sua pregação foi bem captado pelo título de um de seus muitos livros — On Being a Real Person (Ser uma Verdadeira Pessoa).

Infelizmente, essa é a abordagem evidente em muitos púlpitos evangélicos. O púlpito sagrado se tornou um centro de aconselhamento, e os bancos da igreja, o sofá do terapeuta. A psicologia e os interesses práticos substituíram a exegese teológica; e o pregador direciona seu sermão às necessidades percebidas da congregação.

O problema é que o pecador não sabe qual é a sua mais urgente necessidade. Ele está cego quanto à sua necessidade de redenção e reconciliação com Deus e se focaliza em necessidades potencialmente reais e temporais, tais como realização pessoal, segurança financeira, paz na família e avanço profissional. Muitos sermões são elaborados para atender a essas necessidades e interesses, mas falham em proclamar a Palavra da Verdade.

Sem dúvida, poucos pregadores que seguem essa tendência intentam se afastar da Bíblia. Todavia, servindo-se de uma intenção aparente de alcançar homens e mulheres modernos e seculares “onde eles estão”, o sermão tem sido transformado em um seminário sobre o sucesso. Alguns versículos das Escrituras talvez sejam acrescentados ao corpo da mensagem; mas, para que um sermão seja genuinamente bíblico, o texto precisa estabelecer os assuntos como fundamento da mensagem — e não ser usado apenas como uma autoridade citada para fornecer esclarecimento espiritual.

Charles Spurgeon confrontou esse mesmo padrão de púlpitos vacilantes, em seus próprios dias. Alguns das mais agradáveis e mais freqüentadas igrejas de Londres tinham ministros que foram precursores dos pregadores modernos que se baseiam nas necessidades sentidas. Spurgeon — que se esforçou por atrair ouvintes, apesar de sua insistência na pregação bíblica — confessou: “O verdadeiro embaixador de Cristo sente que ele mesmo está diante de Deus e tem de lidar com as almas como servo de Deus, em lugar dele, e que ocupa uma posição solene — nesta posição, a infidelidade é desumanidade e traição para com Deus”.

Spurgeon e Baxter entendiam o perigoso mandato do pregador e, por isso, foram impelidos à Bíblia para usá-la como sua única autoridade e mensagem. Deixavam seus púlpitos tremendo, sentindo interesse urgente pela alma de seus ouvintes e totalmente cônscios de que tinham de prestar contas a Deus pela pregação de sua Palavra, tão-somente de sua Palavra. Os sermões deles foram medidos por poder, os de Fosdick, por popularidade.

O debate atual sobre a pregação pode abalar congregações, denominações e o movimento evangélico. Mas reconheça isto: a restauração e renovação da igreja nesta geração virá somente quando, em cada púlpito, o ministro pregar com a certeza de que jamais pregará novamente e como um moribundo que prega a pessoas moribundas.

Traduzido por: Wellington Ferreira
Copyright: © R. Albert Mohler Jr.
Traduzido do original em inglês:The Urgency of Preaching.
www.albertmohler.com
O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

O Desafio da Pregação Expositiva - GEORGE R. KNIGHT

Encontrei este texto de um professor adventista que considero bastante verdadeiro:

O Desafio da Pregação Expositiva
GEORGE R. KNIGHT
Professor de História da Igreja no Seminário Adventista de Teologia da Universidade Andrews, Estados Unidos


"Se o protestantismo morrer um dia com um punhal nas costas, esse punhal será o sermão." Nessa afirmação meio jocosa, Donald Miller coloca o dedo num desafiante problema para o protestantismo em geral. Muitos pregadores aparentemente têm agido como se o conselho de Jesus aos discípulos em Mateus 10:23 fosse nos seguintes termos: "Quando perseguidos por um texto, fujam para o próximo."

Na maioria dos púlpitos, há muita fuga de um texto para outro ou fuga total do texto bíblico. Lembro-me de um pastor que pregava para a mesma congregação quase todas as semanas, mas tinha apenas três sermões. Quero dizer, ele tinha três tópicos e trabalhava com um deles durante um mês. Produzia variações e mutações em seu limitado repertório de assuntos, mas tudo era a mesma coisa para nós que estávamos nos bancos da igreja. Era tudo muito previsível, exceto algumas vezes quando, aparentemente em frustração, ele acrescentava um pequeno tempero à sua receita homilética para dar uma sova na congregação.

Seus três sermões, quanto eu me recorde, focalizavam sobre a segunda vinda de Cristo, a salvação e a mordomia. Assim, você pode ver que ele era um pastor bem intencionado, mesmo que seu rebanho recebesse alimento espiritual limitado e pobre.

A PALAVRA E O PREGADOR

Inúmeras vezes nós os ouvintes estivemos esperando que nosso obviamente sincero pregador seguisse a injunção de Paulo no sentido de pregar a Palavra, "a tempo e fora de tempo (II Tim. 4:2), em vez de ficar pulando de um texto para outro, nas poucas passagens que usava para provar suas idéias. Porventura, não nos deu o Senhor alguma palavra?

É claro que a pregação de tópico ou assunto ocasionalmente tem o seu lugar; porém, muito freqüentemente ela tem pouco a fazer como a pregação da Palavra. Muitos de nós pregamos para nós mesmos; pregamos sobre os problemas que nós tememos ou os assuntos que nos desafiam. Na verdade, coçamos onde está coçando em nós. Nesse processo, a congregação inteira fica contagiada pela coceira do pastor, quando sua real necessidade é ser alimentada com uma bem equilibrada dieta bíblica, fornecida pela pregação expositiva.

A solução para a doença homilética é pregar a Palavra. Necessitamos mudar do que queremos que o povo ouça, para o que Deus quer dizer-lhe. Isso significa pregação bíblica no sentido expositivo. A grande necessidade é deixarmos que Deus fale como Ele o faz em Suas mensagens através dos vários livros da Bíblia. As Escrituras apresentam uma vasta disposição de tópicos em vários formatos. Quando nós pregamos de forma expositiva, da Bíblia, livramo-nos das nossas predileções pessoais e, mais positivamente, pregamos todos os assuntos sobre os quais Deus quer que falemos. Não nos preocuparemos sobre temas como mordomia, justificação, fé e obras. Eles estão todos embutidos repetidamente em passagens que estão esperando para ser expostas.

Infelizmente, não há muitos modelos disponíveis de apoio à pregação expositiva. As lições da Escola Sabatina geralmente seguem o costume de fugir de um texto para o próximo, dando a idéia de que seu propósito é servir aos leitores uma agenda extra-bíblica, em lugar de prover uma compreensão do que Deus tem a dizer a Seu povo.

Essa tendência está presente mesmo quando o tema da lição é um livro da Bíblia. Poucos anos atrás, encontramos o conceito de obras sendo inserido numa lição sobre Romanos 4, onde ele era muito estranho e não se encaixava. Paulo, de fato, expõe energicamente o assunto, começando no capítulo seis e chegando ao clímax nos capítulos 13 e 14. Na realidade, todo o livro aos Romanos é calcado na afirmação de que Paulo foi capacitado para levar "a obediência por fé" aos gentios (Rom. 1:5; 16:26). Há equilíbrio na totalidade do livro. Se deixarmos Deus falar em Seu próprio tempo através de Sua palavra, Ele dirá o que deseja que conheçamos em seu contexto.

Se você nunca pensou nisto até agora, é tempo de buscar o crescimento na pregação bíblica, expositiva, e menos fuga de um texto para o outro.

PRIORIDADES

Mas, você pode estar pensando: "como posso pregar a Palavra a tempo e fora de tempo, quando tenho tão pouco tempo para um estudo mais aprofundado das Escrituras?" É uma boa pergunta. Por um pouco, cheguei a pensar que não chegaríamos a ela. Lembre-se de que estamos tratando com um assunto que envolve prioridades. Necessitamos perguntar-nos qual é a função primária de um pastor. Essa é a mais importante questão a respeito do nosso chamado. Desafortunadamente, muitos de nós temos nossa compreensão errada sobre esse ponto, e a pregação bíblica acaba sendo uma casualidade.

Eu não me lembro onde colhi este conceito, mas de certa forma, no início do meu ministério, captei a idéia de que a essência de um pastorado bem-sucedido deveria ser batizar um certo número de pessoas, o máximo possível, e alcançar os alvos financeiros, novamente o máximo possível. Com tal agenda, eu não conseguia encontrar muito tempo para a pregação bíblica, e descobri que o trabalho pastoral era menos que gratificante. Na verdade, tornei-me um pouco desiludido, embora eu alcançasse a maior parte dos alvos.

Só depois cheguei à conclusão de que o aborrecimento na vida de muitas denominações, congregações, e na de muitos pastores, começa quando eles aprendem a contar. Contabilizamos batismos, conversões, número de membros, contribuições, instituições, como se tudo isso fosse o objetivo primordial. Eu não estou dizendo que Deus seja contra alvos, número de membros, ou mesmo o ato de contabilizar conquistas, desde que tudo isso seja colocado em seu verdadeiro lugar. Parte do problema é que essas coisas acabam se tornando o centro e objetivo da vida de muitos indivíduos, pastores e líderes. Em tais casos, os alvos tornam-se o centro do ministério, que, em conseqüência, tende a se tornar uma máquina empresarial.

Cheguei à conclusão de que muitos de nós temos de dar meia-volta no rumo seguido até então. Necessitamos "esquecer" os alvos e movimentar-nos em direção ao ministério. Um pastor tem duas funções primárias: amar o povo de Deus e alimentar as ovelhas de Deus. Alguns pastores, chamam para si a responsabilidade de gerar novos convertidos e, semanalmente, pregam seus sermões com o tema "salvação". É certo que este tema deve ser também trabalhado nos sermões, mas o pastor precisa entender que em termos biológicos e também espirituais "ovelha gera ovelha", mas para que a ovelha esteja apta à reprodução ela precisa estar bem alimentada e receber cuidados básicos. É aí que entra a função principal do pastor que em termos literais resume-se em cuidar e alimentar o rebanho. Há pastores que priorizam mais os visitantes que as próprias ovelhas em sua pregação.

Necessitamos rever nossas prioridades. Pastores são chamados para amar o povo e pregar a Palavra. Noutras palavras, são pagos para amar o povo, estudar a Bíblia e apresentar a mensagem de Deus para Seus filhos. Que privilégio! Que deleite!

Estou firmemente seguro de que quando estabelecemos as prioridades corretas, os alvos e números serão naturalmente alcançados e cumpridos. Muitos membros estão cansados de receber sermões que não vão de encontro às suas necessidades espirituais. Estão frustrados com uma pregação que não é essencialmente bíblica. E a maioria dos que se sentem dessa maneira certamente não tem o desejo ardente de expor a seus amigos e vizinhos algo que lhes é menos que satisfatório. O povo está faminto por genuína pregação bíblica e genuíno cuidado interpessoal. Os membros levarão seus amigos à igreja se eles ouvirem consistentemente a Palavra de Deus habilidosamente proclamada, e se eles tiverem a certeza de que, juntamente com seus familiares e amigos, serão tratados como pessoas e não simplesmente como alvos ou números.

Isso significa que os pastores necessitam visitar membros e interessados, motivados pelo senso de cuidado pastoral, não porque tenham de cumprir algum item de agenda. Para cumprir bem essa tarefa, os pastores também necessitam tornar-se não apenas amantes do povo, mas também da Bíblia a fim de que possam ajudar as pessoas a alegrar-se na jornada através da palavra de Deus. As pessoas virão à igreja onde se sentem genuinamente cuidadas. Apoiarão os programas, levarão os amigos para ouvirem a palavra de Deus e partilhar Sua bondade.

Pregação expositiva envolve estudo bíblico sério e regular. Mas mesmo no estudo, eu temo que muitos de nós muito freqüentemente pulemos de um texto para outro, e nos acomodemos com alguma coisa menos que uma profunda compreensão contextual do texto bíblico. Essa fuga e sua resultante superficialidade serão vistas no púlpito.

A verdade é que, sem um estudo exegético profundo, é impossível apresentar de maneira consistente uma exposição bíblica em nossos sermões. E acabamos correndo "nos cascos". Quando perseguidos por um texto, não temos escolha senão fugir para o próximo. Em suma, não podemos pregar a Palavra se não a conhecemos. Embora o processo de conhecer a Palavra tome tempo e esforço, ele é o coração do genuíno ministério.

MEU ESTUDO

Nossa grande necessidade é fugir para a Palavra; pois somente assim poderemos ser pregadores mais efetivos. Alguns anos atrás, eu tomei essa decisão em meu coração, para o bem da minha própria vida espiritual e de meu trabalho. Em 1980, iniciei um estudo intensivo da Bíblia, verso por verso, que imaginei levaria 30 anos para completar. Meu primeiro objetivo foi o Evangelho de Mateus, ao qual devotei uma hora por dia, durante um ano completo. Então, seguiram-se onze meses com Gênesis, quatro com Eclesiastes, e assim por diante.

Meu método era muito simples. Não apenas tinha às mãos várias traduções e material auxiliar ao estudo do texto, mas também selecionei três excelentes comentários para cada livro da Bíblia. Eu consultava cada um daqueles comentários, diariamente, durante o estudo, não porque eles tivessem a verdade completa, mas porque a competência e sabedoria de seus autores ajudavam-me a desembrulhar o texto de uma maneira sistemática. Eles ajudavam-me a ver coisas que eu freqüentemente passava por alto quando estudava à minha própria maneira. Era algo como sentar com três amigos bem articulados que tinham opiniões diferentes.

Alguns dias manejei o trabalho através de quatro ou cinco versos, mas com outros versos eu gastava dois ou três dias, sempre estudando o contexto e em relação a cada propósito do livro da Bíblia. Enquanto eu fugi "para", em vez de fugir "de", o texto, os meses passaram, e eu comecei a pensar sobre a Bíblia de novas maneiras. Meu caminhar diário com Deus no texto começou a afetar minha pregação e meus escritos.

Nesta altura, eu poderia dizer que meu método é apenas uma das muitas maneiras de procurar compreender a Bíblia. Todavia, não é tanto o método que conta, mas quão fiel e consistentemente damos uma porção de nosso tempo ao estudo sistemático das Escrituras.

Em meu estudo, selecionei cuidadosamente obras que eram altamente recomendáveis por seu aprofundamento textual. Assim, eu levantava algumas questões, pesquisava um pouco sobre elas, enquanto movimentava-me de um livro para outro. Procurei volumes que eram compreensíveis, geralmente fiéis ao texto, de leitura agradável, e não excessivamente grandes (muitos comentários atualmente têm dois ou três grandes volumes por livro bíblico). Pois eu fui atrás do mais individual que pudesse encontrar. E achei vários; alguns me fizeram ver aplicações práticas que muitas obras eruditas nunca exploraram.

Em um nível mais homilético, encontrei várias obras expositivas que trabalham o texto a partir de um ponto de vista mais pastoral.

O DEVER DE ESTUDAR

Não importa qual seja o nosso método, estudo consistente da Bíblia é um dever pessoal e pastoral. É algo essencial e não apenas um luxo. Em meu caso particular, essa prática literalmente transformou minha pregação. Quer tenha resultado em uma série de sermões sobre as parábolas de Cristo ou noutra série de 14 semanas sobre o livro de Mateus, tenho desfrutado uma alegria intensa em apresentar a Palavra de Deus. Além disso, as pessoas são alimentadas de uma forma que elas muito desejavam e que não é completa quando simplesmente fugimos de um texto para o outro.

Além dos benefícios sobre a pregação, o estudo sistemático da Bíblia tem influenciado muito os meus escritos.

Eu gostaria muito de me sentar numa congregação, cujo pastor gastasse alguns meses levando-nos, por exemplo, através do livro de Romanos. Mas tal pastor deve ter andado antes, privadamente, com Paulo e seu Senhor, no texto, antes de conduzir-nos em refrigério através dele. O esforço, no entanto, pode ser muitíssimo compensador, para o pastor e sua congregação.
 
Extraído da revista Ministério, publicada pela Casa Publicadora Brasileira (http://www.cpb.com.br/)
 

quarta-feira, 9 de março de 2011

Rev. Augustus Nicodemus Lopes - O cristão e as doenças




Augustus Nicodemos

Creio em milagres. Creio que Deus cura hoje em resposta às orações de seu povo. Durante meu ministério pastoral, tenho orado por pessoas doentes que ficaram boas. Contudo, apesar de todas as orações, pedidos e súplicas que os crentes fazem a Deus quando ficam doentes, é um fato inegável que muitos continuam doentes e eventualmente, chegam a morrer.

Apesar do ensino popular de que a fé nos cura de todas as enfermidades, uma breve consulta feita à capelania hospitalar de grandes hospitais do nosso país revela que há um número elevado de evangélicos hospitalizados -- tradicionais, pentecostais e neopentecostais -- sofrendo dos mais diversos tipos de males. A proporção de evangélicos nos hospitais acompanha a proporção de evangélicos no país. As doenças não fazem distinção religiosa.

Para muitos evangélicos, no entanto, os crentes adoecem e não são curados porque lhes falta fé em Deus.

Será que poderemos dizer que todos eles -- sem exceção -- estão ali porque pecaram contra Deus, ficaram vulneráveis aos demônios e não têm fé suficiente para conseguir a cura?

É nesse ponto que muitos evangélicos que adoeceram, ou que têm parentes e amigos evangélicos que adoeceram, entram numa crise de fé. Muitos, decepcionados com a sua falta de melhora, ou com a morte de outros crentes fiéis, passam a não crer mais em nada e abandonam suas igrejas e o próprio Evangelho. Outros permanecem, mas marcados pela dúvida e incerteza. Todavia, conforme a Bíblia e a história nos ensinam, mesmo homens de fé podem ficar doentes.

Há diversos exemplos na Bíblia de homens de fé que ficaram doentes e até morreram dessas enfermidades. Um deles foi o profeta Eliseu, que padeceu de uma enfermidade que o levou a morte: "Estando Eliseu padecendo da enfermidade de que havia de morrer" (2Re 13.14). Outro, foi Timóteo. Paulo recomendou-lhe um remédio caseiro por causa de problemas estomacais e enfermidades freqüentes: "Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades" (1Tm 5.23).

Ao final do seu ministério, Paulo registra a doença de um amigo que ele mesmo não conseguiu curar: "Erasto ficou em Corinto. Quanto a Trófimo, deixei-o doente em Mileto" (2Tm 4.20).

O próprio Paulo padecia do que chamou de "espinho na carne". Apesar de suas orações e súplicas, Deus não o atendeu, e o apóstolo continuou a padecer desse mal (2Co 12.7-9). Alguns acham que se tratava da mesma enfermidade da qual Paulo padeceu quanto esteve entre os Gálatas: "a minha enfermidade na carne vos foi uma tentação, contudo, não me revelastes desprezo nem desgosto" (Gl 4.14). Outros acham que era uma doença nos olhos, pois logo em seguida Paulo diz: "dou testemunho de que, se possível fora, teríeis arrancado os próprios olhos para mos dar" (Gl 4.15). Também podemos mencionar Epafrodito, que ficou gravemente doente quando visitou o apóstolo Paulo: "[Epafrodito] estava angustiado porque ouvistes que adoeceu. Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza" (Fp 2.26-27).
Temos ainda o caso de Jó, que mesmo sendo justo, fiel e temente a Deus, foi afligido durante vários meses por uma enfermidade, que a Bíblia descreve como sendo infligida por Satanás com permissão de Deus: "Então, saiu Satanás da presença do Senhor e feriu a Jó de tumores malignos, desde a planta do pé até ao alto da cabeça. Jó, sentado em cinza, tomou um caco para com ele raspar-se" (Jó 2.7-8). Isaque, o grande servo de Deus, sofria da vista quando envelheceu, a ponto de não saber distinguir entre Jacó e Esaú: "Tendo-se envelhecido Isaque e já não podendo ver, porque os olhos se lhe enfraqueciam" (Gn 27.1). Esses e outros exemplos mostram que homens de Deus, fiéis e santos, foram vitimados por doenças e enfermidades.

O mesmo ocorre na história da Igreja. Nem mesmo cristãos de destaque escaparam das doenças e dos males. João Calvino era um homem com várias enfermidades. Mesmo aqueles que passaram a vida toda defendendo a cura pela fé sofreram com as doenças, e alguns acabaram morrendo. Um deles foi Edward Irving, o pai do movimento carismático. Pregador brilhante, Irving acreditava que Deus estava restaurando na terra os dons apostólicos, inclusive o da cura divina. Ainda jovem, contraiu uma doença fatal. Morreu doente, sozinho, frustrado e decepcionado com Deus.

Outro caso conhecido é o de Adoniran Gordon, um dos principais líderes do movimento de cura pela fé no século 20. Gordon morreu de bronquite, apesar da sua fé e da fé de seus amigos. A. B. Simpson, outro líder do movimento da cura pela fé, morreu de paralisia e arteriosclerose. Recentemente, morreu John Wimber, vitimado por um câncer de garganta. Wimber foi o fundador da igreja Vineyard Fellowship (Comunhão da Vinha ou Videira) e do movimento moderno de "sinais e prodígios". Ele, à semelhança de Gordon e Simpson, acreditava que, pela fé em Cristo, o crente jamais ficaria doente.
Líderes do movimento de cura pela fé no Brasil também têm ficado doentes. Não poucos usam óculos para corrigir defeitos na vista e até têm problemas nas mãos.

Cristãos verdadeiros, pessoas de fé, eventualmente adoeceram e morreram de enfermidades, conforme a Bíblia e a história claramente demonstram. Isso significa que as doenças nem sempre representam falta de fé e que Deus se reserva o direito soberano de curar quem ele quiser.


Publicado originalmente no blog O Tempora, O Mores!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Como pode ser observado o Senhor como cumpridor de Sua aliança com Israel, em Esdras e Neemias?


Feito em parceria com a seminarista Anydarling Lima.
 
INTRODUÇÂO
Vemos, a partir do capítulo 12 do livro de gênesis, que Deus escolheu um homem, Abrão (posteriormente chamado por Deus de Abraão), através de quem formaria um povo especial e separado exclusivamente para Si (Ex 19.5; 1 Cr 17.22). Após longo tempo, que passa pelo período dos patriarcas, pela escravidão no Egito, êxodo e peregrinação no deserto, conquista da terra de Canaã, período dos juízes e o período dos reis, vemos o período do cativeiro.
Após o reinado de Salomão o reino é dividido por Deus. O Reino do Sul ficou composto pelas tribos de Judá e de Benjamim, enquanto o Reino do Norte, pelas outras dez. O Reino do Norte acabou sendo conquistado, para não dizer dizimado, pelo Império Assírio. Por sua vez, o Reino do Sul foi conquistado pelo Império Babilônico (2 Cr 36.15-21). Este império levou cativos muitos judeus para a Babilônia. Neste contexto, temos, por exemplo, a história de Daniel.
Contudo, fora profetizado pelo profeta Jeremias que este cativeiro (babilônico) duraria setenta anos e então Deus traria seu povo de volta (2 Cr 36.22, 23; Jr 25.11; 29.10; Dn 9.2). Parte deste contexto de retorno do povo de Deus e reestruturação de Jerusalém está registrado nos livros de Esdras e Neemias. Vamos tentar abstrair destes dois livros elementos que nos mostrem como o Senhor Deus cumpriu Sua aliança firmada com este povo, Israel.

Como pode ser observado o Senhor como cumpridor de Sua aliança com Israel, em Esdras e Neemias?

O apóstolo Paulo, em 2 Tm 2.13, declara algo que continua até hoje sendo alvo de muitas interpretações errôneas, pois diz, “se somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.”[1] Entendo que o texto é muito claro quando remete ao alvo da fidelidade de Deus: Ele mesmo, não nós. Isso nos revela o porquê de Deus cumprir suas promessas, apesar dos pecados dos homens. Sim, Ele mantêm e cumpre Ele mesmo Sua palavra para que Seu eterno, perfeito e soberano propósito seja cumprido.
É isso que vemos acontecer nos registros dos livros de Esdras e Neemias[2]. Deus castigou o seu povo com a escravidão por causa dos pecados destes, mas seu plano tinha que continuar e sua vontade, prevalece, afinal de contas, seria de Israel que nasceria o Redentor do mundo[3].
 Vejamos, portanto, alguns aspectos que podemos observar acerca do Senhor cumprindo Sua aliança:
1.          Deus moveu o coração do Rei:
Vemos já no primeiro versículo do livro de Esdras que Deus, para cumpri seu propósito revelado à Jeremias, “despertou o coração de Ciro, rei persa” (ver Is 45.1-4). Ciro redigiu uma proclamação autorizando o povo judeu à voltar à Jerusalém, ordenando também que os que viviam em Jerusalém e nas regiões próximas deveriam dar a eles muitos bens como oferta. Também ordenou a reconstrução do templo de Jerusalém. Da mesma forma vemos Neemias, copeiro[4] do rei persa, que, após tomar conhecimento da situação de Jerusalém e de seus habitantes, ora ao Senhor por vários dias. Certo dia se apresentou triste na presença do rei, o que poderia ser punido com a morte. Contudo, apesar de o texto não declarar explicitamente, vemos que foi Deus quem pôs o favor do rei e da rainha à Neemias.
Não é a primeira vez que vemos a revelação bíblica de Deus movendo o coração de governantes a fim de beneficiar Seu povo e cumprir Seu propósito. Da mesma forma vemos o próprio Deus movendo o coração de Faraó (Ex 4.21; 7.3,13; 14.4,8; 14.17). Em muitas outras passagens podemos comprovar que Deus é aquele que realmente governa o mundo (Is 19.2; 45.7; Ez 32.10).

1.1.        Aplicação: O bom testemunho
A aliança feita com o povo escolhido de Deus, os judeus, foi ampliada a nós, os gentios pelo imensurável amor de Deus.  Na história de Neemias ver-se Deus movendo o coração de um rei incrédulo para cumprir seus propósitos, entretanto, Ele o fez porque seu servo Neemias tinha um bom testemunho diante do rei, ele era uma pessoa de inteira confiança, seria improvável Neemias ter sido usado por Deus se ele não gozasse de uma vida integra diante daquela sociedade. Da mesma forma os cristãos hodiernos devem zelar pela sua integridade moral, para que possam ser um canal de benção usado por Deus.
Características morais de Neemias:
·       Integridade;
·       Confiabilidade;
·       Responsabilidade;

2.    Deus moveu o coração do seu povo
Vemos em Ed 1.5 que o próprio Deus tocou o coração de pessoas de seu povo para que estes se dispusessem a ir à Jerusalém e reconstruir o templo, bem como aqueles que não voltaram, se dispuseram a ajudar fazendo doações.
Para Schultz, “a oração registrada em Ne 1.5-11 representa a essência da intercessão de Neemias durante este período de luto e choro”. Neemias lembrou dos pecados do povo contra o Senhor e da aliança deste com seu povo. É importante notar que é esta aliança que é evocada quando pede ajuda de Deus para cumprir o propósito de restaurar Jerusalém. Neemias 1.6 registra que todo o povo estava se dedicando ao máximo, de dia e de noite, de tal forma que conseguiram restaurar os muros em cinqüenta e dois dias (Ne 6.15).
Essa força e denodo são postos no homem pelo próprio Deus (E 15.12; Sl 18.2; Ef 6.10).

2.1.        Aplicação: Disponibilidade para Deus
O propósito de Deus é abençoar o seu povo, porém, para que isto aconteça o cristão deve ter um coração quebrantado diante de Deus, pois, só assim ele poderá ouvir sua voz e entender o seu querer. Os judeus estavam sem pátria, sem templo, mas, não sem Deus, naquela pátria distante mesmo em meio a tanta idolatria ainda havia no coração daquele povo disponibilidade para Deus.
Assim Deus o Senhor, pode tocar nos corações daqueles judeus e os conduzir de volta a Jerusalém, para reconstruírem a cidade.
Características espirituais do povo de Deus:
·       Obediência;
·       Disponibilidade.

3.    Deus cobrou conserto
Vemos também que, apesar de Deus ser o verdadeiro responsável pela manutenção da aliança, isso não quer dizer que os homens não tenham responsabilidades. Vemos em Esdras e principalmente em Neemias a necessidade de muitas reformas que deveriam ser realizadas, pois só poderia haver restauração da cidade e da comunhão com Deus se o povo voltasse a se guiar pelos seus mandamentos.
Dentre os aspectos que observamos podemos destacar a exploração dos ricos para com os pobres. Estes, para pagar os impostos e para adquirir os víveres tinham que pegar dinheiro emprestado à altos juros. Não podendo pagar, suas terras eram tomadas e seus filhos viravam escravos para pagar a dívida. Então Neemias proibiu a usura e restabeleceu o ano sabático e do jubileu[5] (Ex 21.2; Lv 25.10). Isso ocorreu para que não houvesse abismo social, de forma que de um lado houvesse famílias muito ricas e do outro, famílias muito pobres. Também para que lembrassem que a terra pertence à Jeová.
Também foi ensinada a lei ao povo[6]. Eles deveriam ter conhecimento dos da lei que regia a aliança com Deus, inclusive na observância das festas anuais e do sábado.
Esdras se deparou com um quadro em que até muitos sacerdotes haviam casado com mulher estrangeiras. Foi necessário que todos despedissem suas mulheres e seu filhos frutos dessa união para que a pureza fosse mantida, além de preservar Israel de se afastar da lei do Senhor e mesmo cair na idolatria, como no reinado de Salomão (1 Rs 11.1-4). Ellisen (1991) observa que as estrangeiras de quem deveriam se divorciar provavelmente eram esposas de casamentos posteriores ao casamento com judias, o que também visaria proteger o futuro da linhagem pura. Além disso, não quiseram qualquer aliança com os samaritanos, que estavam miscigenados e com formação religiosa eclética. Era tempo de voltar à lei do Senhor e criar identidade de povo de Deus.

3.1.        Aplicação: Fidelidade a Deus
Esdras foi o líder espiritual daquela maravilhosa obra, a reconstrução de Jerusalém, juntamente com Neemias ele foi responsável por uma mudança radical na vida do povo de Deus, pois muitos deles haviam caído na idolatria e abandonado os ensinamentos do Senhor, casando-se com gentios e fazendo o que era mal diante de Deus. Para que Jeová voltasse a operar maravilhas em Israel era necessário que todos voltassem o coração para Deus, pois Ele não divide sua glória com ninguém (Is. 42.8), era necessário que Israel voltasse a ter fidelidade com Deus.
O povo de Deus deve servi-lo de todo coração, e para isso a fidelidade ao Senhor é indispensável, os altares espirituais devem ser concertados para que Deus permaneça a habitar em nós.


CONCLUSÃO
          Vemos nesta breve abordagem do livro de Esdras e Neemias que a aliança que Deus firma com o homem é garantida por Ele mesmo. O próprio Senhor quem leva a cabo seu projeto, apesar dos homens. Seu plano de enviar, por meio de Israel, Jesus, o redentor, que haveria de reconciliar a criação com Deus, não seria frustrado, mesmo que seu povo se desviasse de seus preceitos. O próprio Deus cumpriria seus propósitos eternos de acordo com sua infindável sabedoria.
          Por outro lado, o fato de Deus ser a própria garantia de cumprimento da aliança não exime os homens de responsabilidades diante dEle e uns dos outros. Deus requer integridade de seu povo.
Verificamos a instauração de reformas sociais, econômicas, políticas, administrativas, urbanas e religiosas, cuja discussão não dispõe de espaço suficiente neste trabalho acadêmico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SCHULTZ, Samuel J. A história de Israel no Antigo Testamento vida nova: São Paulo 253 p.
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Antigo Testamento; Gênesis a Neemias Vol 1  CPAD 321 p.
ELLISEN, Stanley A. Conheça melhor o Antigo Testamento Vida: São Paulo trad. Emma Anders de Souza Lima 1ª ed. 1991 371 p.
PACKER, James I.; TENNEY, Merril C.; WHITE JR., William. O Mundo do Antigo Testamento Vida: São Paulo 1ª ed. 2002 105 p.


[1] Os textos bíblicos utilizados são da Nova Versão Internacional.
[2] Apesar desse nome, originalmente, ambos são postos como um livro só, cuja autoria é hegemonicamente atribuída à Esdras.
[3] A palavra utilizada em Jo 3.16 para “mundo” é “cosmos”, revelando o sentido de toda a criação sendo redimida.
[4] Quanto ao ermo original, não se tem certeza se
[5] Aqueles que tornavam-se escravos por dívidas deveriam ser libertados ao no sétimo ano, bem como as terras vendidas deveriam retornar aos proprietários no qüinquagésimo ano.
[6] Alguns estudiosos defendem que teria sido lido apenas Deuteronômio, que expressamente tem a ordenança de ser lido em voz alta.